Com isto, Teixeira voltará ao prédio da SR-RJ/DPF para ser
ouvido. Esteve lá na noite de 5 de maio, em situação bastante diversa. Foi
recebido com regalias ao prestigiar a posse do superintendente, o delegado
Valmir Lemos de Oliveira. Aguardou a cerimônia no gabinete, junto a autoridades
como a presidente do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), Maria
Helena Cisne. Caberá a Oliveira instaurar a investigação contra aquele que foi lhe
dar as boas vindas no cargo.
Não é a primeira vez que o procurador manda investigar
Teixeira. Em 2006, a partir do relatório da CPI do Futebol no Senado, fez 11
pedidos. O delegado especialmente designado para o caso propôs o arquivamento
de todos. Apenas quatro voltaram a Freire na redistribuição dos feitos e nos
quatro ele denunciou o presidente da CBF. Três denúncias viraram processos, que
o TRF-2 trancou..
Na ação nº. 2003.51.01.515982-5, da 6ª Vara Criminal, ele foi
acusado de crimes tributário, contra o sistema financeiro e lavagem de
dinheiro. Tratava das remessas de dólares da empresa Sanud Etablissement, no
paraíso fiscal de Liechtenstein, para a brasileira RLJ Participações, cujo
sócio principal é o presidente da CBF. Por conta dela é que caiu com Freire a
representação de Marcos Pereira, presidente do PRB, ao Procurador Geral da
República, Roberto Gurgel, pedindo investigações das denúnciasde Jennings.
Nas denúncias de Jennings, Teixeira está entre os dirigentes
da Fifa subornados pela empresa de marketing ISL, para ter o direito de
transmissões de TV em algumas copas. Os subornos chegaram próximos de US$ 200
milhões e, segundo o jornalista, foram pagos através de empresas fantasmas
sediadas no paraíso fiscal de Liechtenstein.
ENTENDA O CASO DE SUBORNO
Na década de 90, a empresa de marketing ISL teria pago a
alguns membros da Fifa para negociar os direitos de transmissão de televisão da
Copa. Os valores chegariam a U$ 200 milhões (cerca de R$ 374,5 milhões).
Brasileiros suspeitos Ricardo Teixeira e João Havelange, ex-presidente da Fifa,
estariam entre os que receberam dinheiro da ISL. O primeiro teria ficado com
US$ 9,5 milhões (aproximadamente R$ 17,3 milhões).
Acordo e sigilo
À Justiça suíça, dirigentes não teriam contestado acusações.
Inclusive, haveria acordo para devolverem o valor recebido. Os documentos que
comprovariam o caso podem ser revelados em breve.
Caso reaberto
Em julho de 2011, Marcos Pereira, presidente do Partido
Republicano Brasileiro (PRB), apresentou a Roberto Gurgel, procurador-geral da
República, representação criminal contra Teixeira. Após avaliação, Gurgel
recomendou que o requerimento fosse distribuído para algum procurador da área
criminal do Ministério Público Federal do Rio de Janeiro (MPF-RJ). O caso parou
sobre a mesa do procurado Marcelo Freire, que já ofereceu denúncias contra o
cartola.
Suíços
investigaram
Os pagamentos da ISL foram investigados pelo Ministério
Público suíço. Há uma lista com os nomes dos beneficiados. Para evitar um
processo, eles fizeramacordo, desembolsando dinheiro, como as leis suíças
prevêem. Jennings e o repórter suíço François Tanda teriam visto a lista.
Segundo eles, para Teixeira teriam sido pagos US$ 9,5 milhões
(R$ 17,3 milhões), através da Sanud, como noticiou o programa Domingo Espetacular,
da TV Record. O programa citou alguns dos 21 depósitos na conta da Sanud em
cinco anos: em 10 de agosto de 1992 US$ 1 milhão; outro US$ 1 milhão em
fevereiro de 1993; em maio de 1995, US$ 500 mil; e dois, de US$ 250 mil cada,
em novembro de 1997.
A denúncia de Freire se baseou no que a CPI levantou. Ela
fala só de duas transferências da Sanud para a RLJ - US$ 399 mil em julho de
1996 e US$ 199 mil em maio de 1997 - que não estão nas citadas agora. Isto fez
o procurador concluir que estas outras remessas justificam uma nova
investigação.
Empresas de
fachadaNa denúncia, Freire sustenta que a RLJ e a Sanud
- que tinha o irmão de Teixeira, Guilherme, como procurador no Brasil - são de
"fachada" e pertencem ao presidente da CBF. Para ele, as remessas para
a RLJ não são empréstimos, como alegado. A Sanud é sócia da RLJ e, ao mesmo
tempo, sua credora.
A tese dos empréstimos é contestada pelo fato dos juros e
taxas serem muito baixos e também os valores recebidos jamais terem sido
amortizados enquanto a Sanud existiu. Além disto, a RLJ jamais apresentou
resultados operacionais que demonstrassem capacidade de pagar a dívida. Como se
não bastasse, ela repassou vultosos valores como empréstimos para terceiros,
entre os quais o próprio Teixeira e outra empresa em que ele tem participação.
Tudo caracteriza, no entendimento de Freire, o ingresso de
recursos no país de forma disfarçada, como se fossem investimentos ou
empréstimos da Sanud para a RJL. Ou seja, a "lavagem" de dinheiro
ilegal e não declarado à Receita.